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“Triste! Triste… Triste?” é uma alegoria do luto

Sinopse

Monólogo dirigido por Nicolas Ahnert e interpretado por Thalles Cabral parte da perda da mãe para explorar os anseios de uma geração anestesiada em busca de sua própria identidade

Por Ubiratan Brasil (publicada em 13 de outubro de 2025)

A peça nasceu de uma casualidade. O diretor Nicolas Ahnert folheava distraidamente algumas obras em uma livraria quando um título chamou sua atenção, Triste não é ao certo a palavra (Companhia das Letras). “Comecei a ler e logo me interessei, a ponto de comprar o livro e, após terminar, decidir transformar o texto em uma peça de teatro”, contou ele, que estreia como dramaturgo com Triste! Triste… Triste?, monólogo que também dirige, com a interpretação de Thalles Cabral, no Teatro do Núcleo Experimental, em São Paulo.

No livro, o autor Gabriel Abreu traça um retrato delicado mas feroz sobre legado, memória e amor na relação entre mãe e filho. “É sobre dar voz. Ao filho, enquanto ele ainda não aprendeu a falar. À mãe, a partir do momento em que ela já não pode mais falar”, comenta a também escritora Aline Bei, na orelha do volume. A montagem de Ahnert mergulha no luto de um filho diante da perda da mãe, que tem apenas um mês de vida. Uma descoberta inesperada o obriga a revirar o passado para conhecer quem essa mulher foi, antes que o tempo acabe.

Thalles Cabral no monólogo Triste! Triste… Triste?. Foto Diego Rodrigues

O espetáculo amplia o universo literário para discutir identidade e memória. Muitas perguntas assombram o personagem vivido por Cabral, em uma busca urgente de conhecer a profunda essência da mãe, resgatando e reescrevendo suas memórias, enquanto se depara com a sua própria vulnerabilidade.

“A peça traz as diversas fases do luto: negação, barganhada e aceitação”, conta o encenador, cujo texto traz uma contagem regressiva dos 30 dias que mãe ainda tem de vida. “Para mim era importante que o público pudesse enxergar e entender a dor desse filho, para além do luto. Identificar nele um personagem humano, complexo, e não um herói ou uma vítima.”

Na busca por detalhes que preenchem as lacunas da história da mãe, que não consegue falar mais. É quando ele descobre uma caixa com cartas recebidas por ela ao longo dos anos. “É a maneira com que ele consegue saber mais sobre a mãe”, conta Cabral, cuja interpretação precisa e segura mantém a atenção do público durante o espetáculo. “À medida em que recria a memória dela, o rapaz também descobre mais sobre si mesmo. É uma alegoria do luto.”

O diretor Nicolas Ahnert e o ator Thalles Cabral no monólogo Triste! Triste… Triste?. Foto Diego Rodrigues

“Ele sofre com um vazio existencial“, completa Ahnert, cuja concepção cênica transformou o espaço do Núcleo Experimental em um corredor com as cadeiras ao redor. No centro, um grande canteiro com água é palco para o personagem tentar desvendar os documentos que encontra da mãe. “Além de entreter, a peça ajuda também a nova geração a questionar quem são os próprios pais”, conta Cabral.

Serviço

Triste! Triste… Triste?

Teatro do Núcleo Experimental. Rua Barra Funda, 637

Sábados, 20h. Domingos, 19h. A partir de novembro, também às segundas, 20h. R$ 80

Até 30 de novembro (estreia 11 de outubro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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