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SP recebe mais dois espaços para teatro infantil no mês das crianças

Sinopse

Pequeno auditório do Teatro Cultura Artística estreia sua primeira temporada de espetáculos para crianças, com “Onheama”, do grupo Pequeno Teatro do Mundo, enquanto a cia O Que De Que, de Rodrigo Andrade, inaugura na Vila Leopoldina o espaço Chiquita, especializado – inclusive arquitetonicamente – em teatro para bebês

Por Dib Carneiro Neto (publicado em 10 de outubro de 2025)

Notícias boas neste mês de outubro, que se convencionou chamar de “o mês das crianças”: São Paulo ganha mais dois espaços que terão programação de teatro voltada para as infâncias. Um deles é o chamado Pequeno Auditório do Teatro Cultura Artística, que escolheu para a primeira temporada nada menos do que uma ópera com bonecos, Onheama, da companhia Pequeno Teatro do Mundo. E a outra é o espaço Chiquita, que nasceu na semana passada, na Vila Leopoldina, por iniciativa do grupo O Que De Que, do ator, diretor e bonequeiro Rodrigo Andrade. Chiquita é um teatro pensado para abrigar peças para a primeira infância ou, como se diz atualmente, peças para bebês. 

“Ficamos muito felizes em ter um espetáculo tão especial quanto Onheama para abrir a programação infantil do Pequeno Auditório do Cultura Artística”, declara Barbara Passeau, gerente de comunicação do histórico teatro paulistano, recentemente reinaugurado depois de anos de reforma pós-incêndio. “Contar com uma obra de um compositor da importância de João Guilherme Ripper é uma honra para nós, assim como o relevante trabalho do grupo Pequeno Teatro do Mundo. Lembro também que, no Grande Auditório, já vínhamos apresentando a série Aprendiz de Maestro, da Tucca, desde o ano passado, e também outros concertos matinais, uma opção para toda a família.”

Cena de Os Peixes, que se apresenta no Chiquita – Teatro pra Bebês. Foto Marcelo Feijó

 Depois dessa primeira temporada, as crianças não vão parar mais de ter motivos para ir ao Cultura Artística, garante ela. “Nossa intenção é manter uma programação frequente aos finais de semana, testando diferentes formatos de espetáculo”, detalha. “Vamos escolher a programação infantil com o mesmo cuidado que temos na curadoria da programação como um todo. Onheama reflete tanto a preocupação com a excelência como com as demandas contemporâneas, ao propor reflexões sobre a cultura indígena e as questões ambientais. Todas as sessões são preparadas para receber crianças de todas as faixas etárias e contam também com interpretação em libras. Já estamos em tratativas para as peças do ano de 2026.”

Para a companhia Pequeno Teatro do Mundo, de Fábio Retti e Fabiana Barbosa, há uma curiosidade envolvida neste convite do Cultura Artística. É a terceira sala, em pouco tempo, que os chama para a inauguração da programação de teatro infantil. As outras duas foram o Teatro B32, na avenida Brig. Faria Lima, e o Teatro do MAM, no Parque do Ibirapuera, quando foi reaberto.

“É uma grande coincidência estar abrindo todos esses espaços com nossos espetáculos”, diz Fábio Retti. “O nosso grupo já nasceu com a ideia de ser itinerante, então talvez isso facilite os convites, pela visão que os programadores têm de nossa trajetória andarilha. A pequena proporção das marionetes nos permite chegar a lugares sem estrutura para receber espetáculos de grande porte. Fomos a cidades ribeirinhas, no meio da floresta, lugares assim. Essa ideia de chegar nos lugares onde é difícil o acesso ao teatro marca nosso trajeto. Que nossa temporada no Cultura Artística seja só o começo de uma grande e longeva ocupação daquele espaço pelas produções para crianças.”

Cena do espetáculo infantil Onheama. Foto Divulgação

Onheama, que significa “eclipse” em tupi e tem o subtítulo de Uma Canção para Salvar a Floresta, é todo construído à base de marionetes de fio. Em forma de ópera, ou seja, todo cantado, conta a história épica de Iporangaba, um jovem guerreiro indígena, que precisa resgatar o Sol, que foi engolido por… uma onça! Nessa saga, ele contará com a ajuda do Boto Cor de Rosa e de Iara, seres encantados da mitologia amazônica. Uma escolha incrível, que tem muito a cara do Cultura Artística, espaço tão tradicionalmente ligado à música. 

Uma sala ‘chiquita’ para público ‘chiquito’

Reconhecida internacionalmente por sua pesquisa de teatro de formas animadas, a Cia. O Que de Que, com seu novo espaço Chiquita, quer manter uma programação cultural na cidade, totalmente voltada para os anos iniciais da primeira infância. Já começou com muito gás e terá uma extensa lista de atrações também no dia 12, o Dia das Crianças. O nome surgiu como?

Explica Rodrigo Andrade: “Eu estava na Colômbia, participando de um festival de teatro de bonecos e, claro, praticando meu portunhol. Foi lá que comecei a ouvir muito essa palavra – chiquita. Ela me marcou, porque se conecta de muitas formas com o nosso projeto: nossos espetáculos são criados para as crianças ‘mais chiquitas’, e a nossa sala também é chiquita – um espaço pequeno, acolhedor, pensado para receber menos pessoas e favorecer uma comunicação mais íntima com esse público tão especial, acompanhado de seus familiares”.

“O que mais me toca, na inauguração do Chiquita”, diz Andrade, “é ver pais, mães e irmãos mais velhos deitados, engatinhando ou rolando no chão junto aos bebês ao final dos espetáculos – e, claro, o olhar maravilhado dos pequenos, muitos deles com menos de 2 anos, vivendo suas primeiras experiências no teatro.” Chiquita em inúmeras especificidades, sobretudo arquitetônicas, para funcionar a contento em seu propósito.

“Acreditamos que um teatro para bebês exige um olhar carinhoso que vai muito além da sala de espetáculo. É preciso pensar na experiência do público desde a chegada ao espaço, criando uma atmosfera de acolhimento, escuta e presença. Para isso, o Chiquita foi concebido com a parceria de amigos e profissionais que são referência no país nesse campo: Dayana Araújo, arquiteta especializada em ambientes menos ‘adultocentrados’; os parceiros e padrinhos do Chiquita, Sandra Vargas e Luiz André, do Grupo Sobrevento; e a pesquisadora e doutora em teatro para bebês, Paula Zurawski.”

Ele explica que cada detalhe do espaço foi pensado a partir da escala das crianças pequenas e das necessidades das famílias: “Mobiliário adaptado – bancos, mesas no foyer, poltronas e sofás acolhedores que convidam ao convívio. Infraestrutura de apoio – banheiros com trocadores, apoios para bolsas e locais adequados para carrinhos. Acessibilidade e livre circulação, garantindo conforto e segurança para todos. Elementos brincantes e sensoriais – caixas que servem para brincar e sentar, seixos rolados, parede verde e painéis táteis que estimulam o toque e a curiosidade. Foyer com iluminação e ventilação natural, e uma antessala de transição, que prepara o corpo e o olhar para a entrada na sala de teatro, evitando mudanças bruscas de luz e ambiente.”

Cena do infantil Mumblu. Foto Hussan Adin

O espaço cênico também foi desenhado seguindo todos esses cuidados. “Para acolher o público de forma integral”, diz Andrade, “o piso de madeira convida todos a ficarem descalços, e os assentos são livres, permitindo diferentes formações conforme o espetáculo. Para Pequenos Segredos para o Mundo não me Mudar, da O Que De Que, escolhemos uma disposição em arena, com o público ao redor da cena — minipoltronas para as crianças, sofás para lactantes e bancos maiores para pessoas com menor mobilidade. Tudo em um ambiente seguro, acolhedor e sem hierarquias, onde artistas e público dividem o mesmo nível, dissolvendo as fronteiras entre palco e plateia.” E ele faz uma ressalva importante: “Ah! E nosso espaço não apresentará somente teatro para bebês, só que agora a brincadeira será outra: essas produções para gente grande é que terão de se adaptar ao formato de um teatro para bebês.”

Nesse contexto tão harmônico e bem estudado, é importante saber o que o criador e administrador do espaço pensa da modalidade de “teatro para bebês”. Como ele definiria esse tipo de espetáculo? “Estamos apenas engatinhando nesse universo”, começa a responder Rodrigo Andrade. “Nosso projeto nasceu da minha experiência na Rússia, onde conheci uma sala criada especialmente para o teatro de bebês – algo que nunca tinha visto no Brasil. Do pouco que vivenciei até agora, acredito que o teatro para bebês fala sobre presença. Ele não se apoia em códigos de linguagem, interpretações ou histórias a serem compreendidas, mas nas relações puras, diretas e afetivas.”

Ele continua: “É a abertura de uma fenda no ritmo acelerado da nossa sociedade, um convite para redescobrir o tempo do convívio simples e verdadeiro, aquele que nunca deveria ter desaparecido das nossas vidas. Atuar para bebês também nos faz repensar o que é atuar. Percebemos que nos comunicamos muito mais com os pequeninos quando estamos inteiros nas relações em cena – seja entre os atores, seja entre o ator e o objeto. O que realmente toca os olhos dos bebês não é a interpretação, mas a verdade da presença. Um desafio enorme”.

Serviço

Onheama, Uma Canção para Salvar a Floresta
Cultura Artística – Pequeno Auditório. Rua Nestor Pestana, 196
Sábados e domingos, 11h e 16h. R$ 80. Crianças de 3 a 12 anos pagam meia-entrada. Crianças até 2 anos e 11 meses não pagam ingresso e devem ficar no colo dos pais.
Até 14 de dezembro (estreia 11 de outubro)

Chiquitita – Teatro pra Bebês
Espaço Chiquita. Rua Cel Domingos Ramos, 54, Vila Leopoldina
Confira a programação do espaço: Pequenos segredos para o mundo não me mudar
Com Cia. Que de Que. Quando: 4 de outubro a 2 de novembro (exceto dia 12/10), aos sábados e domingos, às 11h. Classificação: Livre. Quanto: Grátis, com reserva obrigatória pelo site bilheteria inteligente.
Especial Dia das Crianças: sáb (11), 11h, Pequenos Segredos para o Mundo Não Me Mudar. Sáb.(11), 15h, Zona de Conforto. Dom (12), 11h, Meu Jardim (Sobrevento). Dom.(12), 15h, A Ilha do Tesouro.
V Feira Das Formas Animadas. Ed. Especial: Feirinha pra Bebês. Quando: de 8 a 30 de novembro, aos sábados e domingos, às 11h (sessão extra na quinta-feira, dia 20, às 11h). Quanto: Grátis 

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Ficha Técnica

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Serviço

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