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“Música para Morrer de Amor” revisa, depois de 15 anos, peça que revelou o autor e diretor Rafael Gomes 

Sinopse

Antes batizado de “Música para Cortar os Pulsos”, o clássico recente ganha releitura encenada por Fabrício Licursi e Victor Mendes e trilha sonora original  

Por Dirceu Alves Jr. (publicada em 8 de outubro de 2025)

Na tentativa de convencer com a máscara da tranquilidade, o dramaturgo e diretor Rafael Gomes, de 42 anos, prepara-se para assistir à estreia de Música para Morrer de Amor neste sábado, dia 11, no Teatro Estúdio, em São Paulo. “Estou feliz de olhar de fora e saber que meus parceiros de longo tempo vão dar outro entendimento ao texto”, diz ele, que acompanhou apenas um ensaio. “Eu não tinha mais o que espremer desta peça e era hora de passar o bastão.”

É, Rafael Gomes, o seu primeiro filho para o teatro ganhou o mundo de vez. Música para Morrer de Amor é o título da nova versão de Música para Cortar os Pulsos, agora sob a direção de Fabrício Licursi, de 41 anos, e Victor Mendes, de 37, este integrante do elenco da montagem original. O espetáculo estende o diálogo para as novas gerações, aqueles que eram pequenos ou nem tinham nascido em 2010, ano do lançamento no Auditório do Sesc Pinheiros, seguido de uma temporada no Instituto Cultural Capobianco

Na época, Gomes foi revelado como um nome promissor da cena paulistana – o que se cumpriu em montagens tão diferentes nos anos seguintes como Gotas D’Água Sobre Pedras Escaldantes, Um Bonde Chamado Desejo, Gota D’Água [A Seco] e o recente musical Nossa História com Chico Buarque, visto no começo deste ano em São Paulo. 

Música para Cortar os Pulsos ficou três anos em cartaz entre viagens e novas temporadas paulistanas, além de render uma adaptação cinematográfica em 2019, com Mendes, Caio Horowicz e Mayara Constantino, já batizada de Música para Morrer de Amor, sob o comando de Gomes. “O título original não diz mais nada às novas gerações, pelo contrário, pode ser associado a auto ferimentos e despertar gatilhos”, justifica o diretor de teatro e cinema. “No fim de 2021, quando fizemos uma temporada dos 10 anos no Teatro Vivo, já cogitávamos a troca do nome, mas ficamos receosos de que o público não a identificasse como a peça.”  

Luiza Porto, Vitor Rocha e Daniel Haidar em Música para Morrer de Amor. Foto Divulgação

Dividida em dez cenas, Música para Morrer de Amor é centrada em três personagens, Isabela, Felipe e Ricardo, interpretados por Luiza Porto, Daniel Haidar e Vitor Rocha (em alternância com Arthur Berges), que se entrelaçam pelas expectativas românticas e a identificação musical. Isabela sofre por causa de um abandono, Felipe procura de uma paixão e Ricardo, seu melhor amigo, não consegue mais disfarçar o interesse nele. “É uma história que, mesmo com a evolução tecnológica e as transformações comportamentais, não perde a atualidade”, observa Licursi, que trabalha com Gomes desde 2014. “Falamos de indivíduos na tentativa de se aproximarem e estabelecerem um relacionamento.”  

Em monólogos, Isabela, Felipe e Ricardo refletem sobre amores, desejos, separações e perdas em depoimentos costurados por canções que estimulam a memória afetiva da plateia. Os personagens se aproximam conforme o ponto de vista das histórias, e as músicas brotam a partir dos fluxos de pensamentos. “Eu me lembro de a gente fazendo a peça e as pessoas chorando ou até permanecendo sentadas depois do fim da sessão”, recorda Mendes. “A música traz esse poder de identificação porque há sempre quem esteja apaixonado, quem foi abandonado e quem espera o que pode acontecer na próxima esquina.”

Uma playlist que já incluiu Chico Buarque, Marina Lima e Roberto Carlos, desta vez, promete, além de Barão Vermelho, The Smiths, Alcione e trilhas sonoras de filmes, seis composições autorais – interpretadas e executadas pelo trio de protagonistas-criadores. “Esta é mesmo a grande diferença da montagem que, agora, se apresenta como uma peça musicada”, completa o codiretor.   

Daniel Aidar, Vitor Rocha e Luiza Porto em Música para Morrer de Amor. Foto Divulgação

Mendes, Licursi e Gomes fazem questão de frisar o termo “peça musicada” para que os fãs das superproduções musicais que ganharam uma nova dimensão no mercado desde 2010 não se decepcionem diante da proposta. “A peça é construída na atmosfera da delicadeza e da tranquilidade, nada é para fora, grandioso”, reforça Mendes. “As canções pontuam as histórias e brotam à medida que a narrativa de cada personagem evolui.”

Um dos principais nomes do teatro musical surgido nos últimos anos, o mineiro Vitor Rocha, de 27, endossa o clima intimista da montagem. Ele, que não assistiu ao espetáculo original e nem mesmo ao filme, construiu gradativamente as próprias referências ao longo do processo junto aos colegas. “Sabia que a peça tinha conquistado uma geração de fãs e já a admirava por ser um raro trabalho pensado para o público jovem, que normalmente é ignorado no teatro brasileiro”, afirma Rocha. “Mas o meu desafio foi criar músicas originais para uma história fechada e que não precisaria delas para ser contada.” 

Em meio a este cenário diferente, Rocha começou a brincar com o roteiro, contou com a parceria de Daniel Haidar na feitura das músicas e chamou o compositor e instrumentista Elton Towersey, com quem trabalha habitualmente, para prestar uma assessoria como um olhar externo. “Convertemos trechos de cenas em músicas e, em outros casos, colocamos uma lupa em momentos que dentro da história poderiam ser só uma fala ou uma citação”, explica o artista. “Para homenagear grandes cantores e compositores, inserimos nas nossas letras referências a canções famosas, como Todo Amor que Houver nesta Vida, do Cazuza, e Oceano, de Djavan.” 

Serviço

Música para Morrer de Amor.

Teatro Estúdio. Rua Conselheiro Nébias, 891, Campos Elíseos.

Quarta a sábado, 20h. Ddomingo, 15h e 18h. R$ 100

Até 30 de outubro (estreia em 11 de outubro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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