Com direção de Kleber Montanheiro, o espetáculo é o primeiro de uma trilogia de encenações que buscam uma conexão entre São Paulo e Pernambuco, permeados pela temática LGBTQIA+
Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 8 de setembro de 2025)
Nossos Ossos, o primeiro romance do escritor pernambucano Marcelino Freire, conta a saga de um dramaturgo que resgata no necrotério o corpo de um michê com quem se relacionava, para levá-lo até sua família, em Poço do Boi, em Pernambuco. O livro, dividido em duas partes, traz em cada capítulo o título de uma parte do corpo humano. Os pés, as mãos, as articulações e as costelas são alguns dos nomes dados para iniciar trechos do livro que se encerra com um “Cai o pano.”
A referência teatral não é à toa, já que a história é narrada em primeira pessoa por uma personagem que escreve textos teatrais vivendo no submundo da noite de São Paulo. A Cia da Revista partiu deste romance para criar o espetáculo homônimo e que reestreia em seu espaço como parte das comemorações dos vinte e cinco anos do coletivo.
A encenação de Kleber Montanheiro, a partir da dramaturgia feita por Daniel Veiga, se utiliza de linguagens múltiplas, como a música em forma de texto cantado, cenas visuais que potencializam o discurso da fala e o teatro gestual como dramaturgia do corpo.
Nossos Ossos é o primeiro espetáculo de uma trilogia de encenações da Cia da Revista com montagens que conectam São Paulo e Pernambuco, envolvidas pela temática LGBTQIA+. Após a adaptação do romance de Marcelino Freire, o coletivo já encenou Tatuagem, a partir do filme do pernambucano Hilton Lacerda, e mais recentemente João, baseada na obra do também pernambucano João Cabral de Melo Neto.
“O projeto como um todo parte de uma ideia de entender melhor as relações de amor, de tolerância. Não só no sentido da comunidade LGBTQIA +, mas também na aceitação dos nordestinos, porque existe ainda muito preconceito.” afirma o diretor.
Nossos Ossos estreou no ano de 2021, momento em que se vivia um período intenso de isolamento social provocado pela pandemia da covid-19. Na época, o diretor mencionou a conexão da montagem com o sentimento da época. “Precisamos fazer todos os esforços para enterrar os nossos mais de 600 mil mortos.”
Assim como nas outras duas montagens, a música está presente como elemento determinante para o desenvolvimento da dramaturgia. Na adaptação do romance de Marcelino Freire, ela permeia os preparativos para a estranha aventura que Heleno, o dramaturgo, percorrerá. Ele relembra a própria história, da infância mirrada e pobre no sertão ao sucesso na metrópole paulistana. Assim como a prosa poética de Marcelino Freire, o espetáculo mira uma fábula macabra sobre a proximidade entre amor e morte.
No elenco, estão Vitor Vieira, Leandra Gitana, Edu Rosa/Cezar Rocafi, Evas Carretero, Dudu Galvão, Zé Guilherme Bueno e Pedro Ulee.
Serviço
Nossos Ossos
Espaço Cia. da Revista. Alameda Nothmann, 1135
De 10 a 12 de setembro, 20h. Dia 13 de setembro, 19h e 21h30 (reestreou em 3 de setembro)
Ingresso com distribuição gratuita na bilheteria com 1 hora de antecedência
