Atriz está em “Sob o Céu de Paris”, peça sobre a transformação de uma família, que chega ao Itaú Cultural também estrelada por Walter Breda e Rosana Maris, sob a direção de Gabriel Fontes Paiva
Por Ubiratan Brasil (publicada em 3 de setembro de 2025)
A atriz Miriam Mehler nasceu em Barcelona, na Espanha, em 1935, filha de pais judeus que haviam deixando a Alemanha por causa da ascensão do nazismo. Três anos depois, a família rumou para o Brasil, estabelecendo-se em São Paulo. Com 23 anos, ela iniciou a carreira artística participando da montagem de Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, ponto de partida para uma trajetória marcada por montagens clássicas.
Prestes a completar 90 anos (dia 15 de setembro), Mehler vai festejar no local que a acolheu, o palco. Ela protagoniza da peça Sob o Céu de Paris, que chega ao Itaú Cultural nesta quinta-feira, dia 4. Escrito por Gabriela Rabello e com direção de Gabriel Fontes Paiva, o espetáculo traz um delicado acerto de contas em uma família.

A peça conta a história de um casal (Miriam e Walter Breda) que, nos anos 1950, ganha um apartamento na região da Praça Marechal Deodoro, então um endereço muito valorizado em São Paulo. “A região, porém, começou a sofrer uma degradação com a construção do Minhocão, no início dos anos 1970, com a desvalorização dos imóveis”, conta o encenador, lembrando como o Elevado (antes chamado Presidente Artur Costa e Silva e agora denominado João Goulart) construído durante a gestão do prefeito Paulo Maluf provocou a rápida deterioração urbana da região próxima e ao longo de toda a sua extensão, entre os bairros República, Santa Cecília e Barra Funda.
O desalento também marca aquela família e é em busca de respostas que a neta do casal (Rosana Maris) visita os avós a fim de conseguir respostas para os questionamentos e as incertezas sobre sua história. O que acaba encontrando graças a um curioso hábito do avô: o de pregar na parede calendários dos anos vividos, nos quais faz anotações no verso, construindo um detalhado diário de família.
“A peça fala de racismo estrutural, da decadência urbana e da ditadura militar, representada pelo Minhocão”, comenta o encenador, que encontrou uma feliz solução para marcar a presença do Elevado na montagem – revelar seria dar um spoiler. “É muito bonito poder contar essa história com três grandes atores, encabeçados por Miriam Mehler.”

A atriz participou de momentos marcantes do palco nacional, a ponto de ser definida por seu biógrafo, o jornalista Vilmar Ledesma, como uma “espécie de dicionário do teatro paulista”. No mesmo ano em que participou da peça de Guarnieri, por exemplo, esteve no elenco de Um Panorama Visto da Ponte, prestigiada montagem de Alberto D’Aversa levada no Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC. Passou ainda por outros importantes grupos do país, como o Teatro de Arena e o Teatro Oficina.
Em 1969, ao lado do então marido Perry Salles, fundou o Teatro Paiol, que estreou com À Flor da Pele, texto que lançou a dramaturga Consuelo de Castro, em encenação de Flávio Rangel. Trabalhou ainda com diretores de ponta como Emilio Di Biasi, José Renato, Sergio Mamberti, Roberto Lage, Gabriel Vilella, Iacov Hillel, em mais de 70 anos de carreira.
Foi reconhecida com o Prêmio Shell, em 2016, por sua atuação em Fora do Mundo e, na sequência, recebeu o Prêmio Bibi Ferreira, em 2023, por A Herança, com direção de Zé Henrique de Paula. “Nossos momentos de descanso foram marcados por histórias saborosas contadas por ela e pelo Breda”, comenta Rosana Maris.
Serviço
Sob o Céu de Paris
Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149
Quinta a sábado, 20h. Domingos e feriados, 19h. Grátis – Reservas de ingressos a partir da terça-feira da semana da apresentação, a partir das 12h, na plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br
Até 28 de setembro (estreia em 4 de setembro)
