Espetáculo solo traz um zelador em conflito com a possibilidade da perda de seu emprego, mas esperançoso para enfrentar as dificuldades – paixão pelo samba ressalta a alegria nas pequenas coisas da vida
Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 1º de setembro de 2025)
Um zelador de um antigo edifício enfrenta uma grande transformação: a chegada das câmeras e da tecnologia de reconhecimento facial. Esse fato é uma ameaça para seu emprego, sua moradia e sua forte ligação com a escola de samba que faz parte de sua vida desde a infância. É por meio desse mote que o espetáculo Prata da Casa constrói a narrativa de um porteiro, um homem otimista e orgulhoso de sua função, como o próprio título da peça sugere, apesar das agruras comuns da vida. O trabalho solo de Felipe Frazão tem direção e dramaturgia de Victor Mendes e chega ao Centro Cultural São Paulo.
A construção de Tatá, o nome da personagem, como alguém esperançoso e vaidoso da sua função foi uma escolha consciente para o espetáculo. “Eu e o Victor queríamos fazer uma peça sobre uma figura que olha para a vida de um jeito esperançoso. Ele não se omite, percebe todas as camadas que o circundam, as relações, tudo. Mas escolhe ascender diante de qualquer revés”, conta Felipe. “Eu convivi com muitas figuras na minha vida que me lembram o Tatá. Muita gente que diante de tanta tormenta escolhe quase sempre o caminho da leveza.” Esta construção orgânica de Tatá é fruto de observação real do dia a dia de um zelador e da busca por retratar a dignidade e a alegria nas pequenas coisas.
Já o cenário traz como um dos símbolos mais potentes e tocantes da peça a imagem de um violão cenográfico furado por balas. Esta metáfora, que transcende uma experiência pessoal do ator Felipe Frazão com a perda de um instrumento, foi expandida e inspirada em trágicas histórias reais. “A gente trouxe essa história do assassinato, no violão, aí a gente foi decifrando esse universo”, explica Victor Mendes. O violão baleado se transforma em um poderoso símbolo do luto e da resistência na narrativa do zelador, permitindo que a peça transite livremente entre o épico e o dramático, explorando diversas camadas emocionais.

A abordagem do diretor sobre o samba é singular. Mendes esclarece que, em Prata da Casa, o samba não é apenas um tema, mas um lugar de pertencimento. “O personagem da peça ‘nasceu’ na escola de samba. Ele reconhece os gestos, as gírias, os rostos daquele lugar.”
A peça, que dialoga com o tema do desemprego tecnológico, valoriza o trabalhador e a tradição e ressalta a importância da herança de conhecimentos. “Nosso protagonista aprendeu fazendo no dia a dia. Isso é parte de uma tradição que tentam acabar”, afirma o diretor para justificar a junção do ofício e do samba, tão caros a personagem de Prata da Casa, na construção da dramaturgia. E, para expandir esse pensamento, buscou criar uma personagem carismática que promete uma conexão imediata com o público.
Serviço
Prata da Casa
Centro Cultural São Paulo. Espaço Cênico Adhemar Guerra (porão). Rua Vergueiro, 1.000
Quartas, quintas e sextas, 20h. Sábados, 18h e 20h. Grátis – a reserva de ingressos é feita pelo site da CCSP no dia anterior à apresentação. Retirada: 2h antes da sessão
Até 14 de setembro (estreia 3 de setembro)
