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Teatro de formas animadas ganha mostra gratuita

Sinopse

O Que De Que, cia. premiada internacionalmente, organiza seu repertório de 15 anos em festival no Teatro Cacilda Becker para mostrar às famílias as incríveis especificidades da arte de animar bonecos e objetos

Por Dib Carneiro Neto (publicada em 25 de julho de 2025)

Especializada na linguagem do teatro de formas animadas, a paulistana Cia O Que De Que comemora seus 15 anos de trajetória com uma mostra gratuita de repertório no Teatro Cacilda Becker (na Lapa paulistana). O grupo, capitaneado por Rodrigo Andrade, ator, diretor e dramaturgo, sempre procurou perseguir com força o apelo visual e poético, para que virassem marcas registradas da companhia.

Nessa longeva trajetória, já conquistaram cinco prêmios na Rússia, em festivais internacionais de teatro, como o de melhor ator para Rodrigo Andrade, pelo espetáculo A Ilha do Tesouro, que estará nesta mostra. Também foi a única companhia brasileira convidada a abrir uma edição do prestigiado Festival de Bonecos do Teatro Obraztsov, em Moscou (2019).

Cena de O São João dos Mamulengos. Foto Cristina Silva

“Chegar aos 15 anos de trajetória nos traz um misto de sentimentos”, declara Rodrigo Andrade. “Um orgulho muito grande e, ao mesmo tempo, uma resistência, uma luta diária. Questionamos quase o tempo todo se devemos continuar, porque as coisas cada vez mais no país ficam descartáveis, com poucos espaços de apresentação, temporadas cada vez mais diminuindo – e tendo de manter o repertório vivo, apesar de tudo isso.” 

Qual teria sido a maior dificuldade? Ele responde: “Conseguir produzir. Ao sair da faculdade de artes cênicas, não sabemos nada sobre produção de teatro, como vender uma peça, como conseguir colocá-la em cartaz. Trabalhei dez anos na Pia Fraus e foi uma escola para mim no sentido de aprender a produzir. Sabemos que, percentualmente, São Paulo (tanto a cidade quanto o Estado) é o lugar que menos investe em cultura no Brasil. Pouca grana, para tantos concorrentes. E está ficando desleal a concorrência nos editais.”

E o maior prazer? “Claro que é o carinho do público que a gente conquistou”, diz prontamente Andrade. “A companhia já passou por mais de 15 países e, por incrível que pareça, a gente é mais idolatrado fora do que no nosso próprio país. O mais gostoso é ter também o reconhecimento das crianças, ver o quanto a gente já cativou corações. Outro orgulho foi que, ao longo desses 15 anos, conseguimos tirar do papel o projeto do Centro de Referências das Formas Animadas, que proporcionou incentivo a tantos artistas apaixonados por teatro de bonecos. Cavamos essa brecha e deu muito certo.” 

Cena da peça Ilha do Tesouro, da Cia. O Que De Que. Foto Sergey Omshenetsky

Que caminhos ele enxerga para o teatro infanto-juvenil no Brasil? Resposta boa, que nos estimula a refletir: “Vivemos um momento de grande desafio. Do mesmo jeito que o mundo acelera, nós aceleramos as nossas crianças. As telas viraram babás, de forma que chegam às nossas plateias de teatro crianças muito aceleradas e ansiosas. Hoje há mais psicólogos do que ortopedistas para essas crianças. Antes elas se quebravam mais do que sofriam males psicológicos. Isso se inverteu. O desafio do teatro, portanto, é a gente rebolar até conseguir descobrir como conversar com esse público mirim vindo com excesso de informação, de telas, de velocidade.”

Rodrigo Andrade nos dá um exemplo de como tudo mudou: “Cadê o Meu Nariz?, que a gente criou há 15 anos, hoje tem cenas que parecem longas e demoradas. Mas, em 2010, quando ele nasceu, não parecia nada disso e o público não achava também que fosse longo.” E acrescenta: “O tempo mínimo de duração de um espetáculo, para poder entrar em editais e prêmios, é de 45 a 50 minutos. Isso logo vai precisar ser revisto, se o mundo continuar desse jeito. Diante de todo esse quadro, ainda acho que o melhor jeito de saber que caminhos seguir é sempre ouvindo o público. Ele é que vai nos dizer o que temos de refazer e repensar.” 

Cena da peça Cadê o Meu Nariz, da Cia. O Que De Que. Foto Paulo Vinicius

Planos não faltam para a O Que De Que. Rodrigo Andrade adianta: “Em breve, em parceria com o Grupo Sobrevento, vamos inaugurar a primeira sala do Brasil exclusiva para teatro para bebês, pensada arquitetonicamente para isso por várias companhias, com supervisão da arquiteta Dayana Araújo, especializada em espaços para crianças, e da educadora Maria Paula Zurawski, com sua pesquisa de doutorado também voltada para bebês. Quando nossa companhia O Que de Que esteve se apresentando na Rússia, conhecemos o teatro para bebês do grupo da cidade de Omsk, e esse foi o grande disparador para esse desejo de fazer isso também em São Paulo. Chiquita Teatro para Bebês será o nome e já tem até perfil no instagram (@chiquitateatroprabebes). As companhias que forem se apresentar ali terão de adaptar seus espetáculos para as dimensões e outras especificações do espaço.” 

Há dois espetáculos em andamento na companhia O Que de Que. Andrade nos antecipa: “Pequenos Segredos para o Mundo Não me Mudar, dirigida por mim, será nossa primeira montagem de teatro para bebês. Também fizemos uma imersão no universo das crianças da EMEF Aníbal Freire, perto da Vila Leopoldina, com consultoria do Grupo Esparrrama, para criação de uma dramaturgia sobre o que se passa nos contos de fadas depois do “felizes para sempre”. Como se vê, depois das comemorações dos 15 anos, a Cia. O Que De Que continuará feliz para sempre. 

Um lembrete de Rodrigo Andrade: “Nesta edição especial de 15 anos, damos mais um passo em direção à autonomia e ao cuidado com nosso público: lançamos nossa própria plataforma de ingressos. Com ela, buscamos não apenas facilitar o acesso gratuito aos espetáculos, mas também conhecer melhor quem nos acompanha nessa trajetória. Reserve seu ingresso em: bilheteriainteligente.com.br”

Serviço

Mostra de Repertório – 15 anos da Cia O Que De Que
Espetáculos infantis: sábados e domingos, 16h. Espetáculos para jovens e adultos: sextas e sábados, 21h. Domingos, 19h

26/07 – Cadê Meu Nariz? Uma Lembrança Circense
27/07 – A Ilha do Tesouro
02/08 – Poronominaré
03/08 – Cadê Meu Nariz?
09/08 – O Jardineiro da Lua
10/08 – O São João dos Mamulengos
25/07 a 10/08 – De Onde Vem o Baião (sessões noturnas)

Teatro Cacilda Becker. Rua Tito, 295

Entrada gratuita (sujeita à lotação)

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Ficha Técnica

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Serviço

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