“A Comunidade do Arco-Íris”, que estreia no CCBB-SP, foi escrita pelo autor gaúcho no início dos anos 1970 e segue atual ao falar para as crianças de temas como confiança, respeito, amizade e até a importância do voto, ou seja, o valor da democracia
Por Dib Carneiro Neto (publicada em 18 de julho de 2025)
Além da campeã Clarice Lispector, outro autor brasileiro que marca presença massiva nas redes sociais hoje em dia, com incontáveis citações lindas atribuídas a ele, é o gaúcho Caio Fernando Abreu (1948-1996). Aposto como suas redes já foram inundadas por frases inspiradoras de Caio F. Agora, em São Paulo, depois de passar pelo Rio e por Belo Horizonte, o espetáculo A Comunidade do Arco-Íris – única peça infantil escrita por ele – nos dará a chance de conhecer essa faceta incomum da obra do jornalista e dramaturgo: sua vontade de falar com as crianças.
E sobre o que ele quis falar, neste texto escrito lá pelos idos de 1971? Confiança, respeito, amizade, coletividade, a importância de se respeitar as diferenças e… democracia. Sim, como se vê, há muita atualidade neste espetáculo, que estreia sábado, 19 de julho, no Centro Cultural Banco do Brasil, o CCBB-SP, onde ficará até agosto. A diretora é Suzana Saldanha, que era uma amiga muito querida na vida de Caio e para quem ele entregou o texto em 1979, até então inédito. Suzy Baby, como ele a chamava, caiu de amores e partiu para a primeira encenação, como diretora, em Porto Alegre. O que mais a encantou assim logo de cara? “Foi o fato de que, na peça, todos acreditam que estão criando um mundo melhor …sem guerras, sem poluição, um mundo igualitário”, responde ela.

Para Suzana Saldanha, que contou com a parceria de Gilberto Gawronski na supervisão de direção, a atualidade do texto de Caio F. está no fato de que traz a consciência do voto, a importância de saber eleger seus representantes. “Não podemos esquecer que em 1971 era o auge do período da ditadura no Brasil. Isso tudo precisa ser reforçado ainda hoje”, comenta ela. “Além disso, o mote da peça é totalmente atual: seres que se recusam a viver na cidade. A bruxa de pano, a sereia, o mágico, o soldadinho que sonha em ser jardineiro, a bailarina e três macacos. Todos querem fugir da cidade grande. Mas, nesta versão, trocamos os macacos por gatos, uma vez que hoje o macaco infelizmente tem conotações racistas.”
Além de trocarem gato por lebre, quer dizer, macaco por gato, houve mais uma alteração para esta montagem de 2025. Suzana nos conta: “As atrizes Bianca Byington (bruxa de pano) e Raquel Karro (sereia) acharam, com razão, que o texto de Caio colocava as mulheres sempre num lugar de competição e, por isso, fizeram alguns ajustes necessários em suas personagens”.

O trabalho traz ainda no elenco Tiago Herz, Lucas Oradovschi, Lucas Popeta, André Celant, Renato Reston, Patricia Regina, Aisha Jambo (stand-in) e Maksin Oliveira (stand-in). Além disso, conta com participação especial em vídeo de Malu Mader logo na abertura. Outra curiosidade, segundo o diretor musical João Pedro Bonfá, é que Caio Fernando indica no texto uma letra com o hino da comunidade do Arco-Íris – e, nesta montagem, essa letra foi musicada por Tony Bellotto e por seu filho, João Mader. Virou, claro, um rock n’ roll no estilo Titãs. Na certa, Caio teria adorado ouvir. Vamos lá conferir?
Serviço
A Comunidade do Arco-Íris
Centro Cultural Banco do Brasil. Rua Álvares Penteado, 112 – Centro Histórico
Julho: Sábados e domingos, 11h e 15h
Agosto: Sábados, 11h e 15h. Domingos, 15h. R$ 30
Até 31 de agosto (estreia 19 de julho)
