Com direção de Amir Haddad e interpretação de Vannessa Gerbelli, último texto escrito pelo carioca Luiz Carlos Góes, em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso, retrata o fracasso e a resistência nos bastidores do teatro
Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 7 de julho de 2025)
O recurso do metateatro costuma render bons espetáculos e boas histórias. Inserir o teatro dentro do teatro dimensiona apreensões em um exercício estimulante para quem assiste. Personagens que são atrizes em cena diante de um conflito premente costumam render boas tramas e discursos poderosos. O dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra questionou os limites da liberdade ao criar em seu texto Ay, Carmela!, de 1986, uma atriz que resolve enfrentar as tropas franquistas. Carmela não teme o regime fascista e expõe sem medo os horrores do cerceamento das liberdades.
Já o dramaturgo e compositor carioca Luiz Carlos Góes, que faleceu em 2014, reconhecido por seu humor mordaz e olhar crítico sobre os comportamentos humanos, retratou em seu último texto uma atriz sem nome que, após uma estreia desastrosa, decide ocupar o teatro e anunciar que só sairá dali à força. A atriz Vannessa Gerbelli assume o desafio de trazer à cena o texto Sombras no Final da Escadaria, que chega ao Teatro Sergio Cardoso.

Com direção de Amir Haddad, o espetáculo é uma mistura de embromação cômica e confissão emocional, alternando entre o absurdo, o humor rasgado e momentos de profundo desabafo. Aos poucos, o nonsense dá lugar a uma fala direta, dolorida e provocadora, expondo camadas de frustração, misoginia, abusos e a solidão de quem insiste em fazer arte em um país que frequentemente ignora sua cultura. A atriz cria uma outra dimensão em cena num ato de explícita indignação.
“As questões da submissão e objetificação femininas me mobilizam desde criança. Quando li essa peça, me deliciei com o humor absurdamente corajoso do Luiz Carlos em seu auge, mas também reconheci a denúncia e o grito dessas pessoas, sobretudo mulheres, que ecoam em minha subjetividade há tanto tempo”, diz Vannessa.

Sombras no Final da Escadaria é um convite à reflexão: como seguir adiante após o fracasso? Que sombras rondam uma mulher artista, sozinha no palco, diante da expectativa de um público?
Vannessa exalta a parceria com o diretor Amir Haddad. “Trabalhar com Amir é sempre meu maior prazer no teatro. Fico muito feliz de trazer essa obra a São Paulo, onde comecei minha carreira”, complementa a atriz.
Assim como Carmela, de José Sanches Sinisterra, a personagem sem nome, de Luiz Carlos Góes, tem muito a dizer no palco e é isso o que a montagem carioca pretende mostrar nesta nova temporada.
Serviço
Sombras no Final da Escadaria
Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno. Rua Rui Barbosa, 153
Sábados e domingos, 18h. R$ 90
Até 27 de julho (estreou 5 de julho)
