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Lilia Cabral e Giulia Bertolli voltam com “A Lista”, peça que superou a pandemia

Sinopse

A comédia dramática, que reestreia no Teatro Faap, mostra duas mulheres transformadas pela solidariedade

Por Dirceu Alves Jr. (publicada em 26 de junho de 2025)

A atriz Lilia Cabral falou adeus à vilã Maristela Alencar no último dia 12, quando terminou de gravar a novela Garota do Momento. Apresentada no horário das seis da Globo, a trama escrita por Alessandra Poggi tem o capítulo final exibido na sexta, 27, e a intérprete festeja o recente sucesso incluído no vasto currículo televisivo. “O caráter lúdico permitiu à autora tratar de diversos assuntos sem um compromisso forte com a realidade”, comenta ela, sobre a história, ambientada em 1958, que aborda conflitos raciais, identidade de gênero e relações abusivas. “E, neste contexto, os vilões se tornarão mais malvados e saborosos.” 

Provavelmente Lilia, de 67 anos, não acompanhará o desfecho de Garota do Momento em tempo real por causa de outro compromisso. Na mesma sexta, 27, ela volta a São Paulo, desta vez no Teatro Faap, com A Lista, comédia dramática de Gustavo Pinheiro dirigida por Guilherme Piva, em que contracena com a filha, Giulia Bertolli, de 28.  A peça é a crônica de um sofrimento recente, a pandemia da covid-19, que, felizmente, com o passar dos anos, pode ser vista com distanciamento e até rende passagens divertidas. 

Giulia Bertolli e Lilia Cabral na peça A Lista. Foto Priscila Prade

No palco, Lilia é Laurita, uma sexagenária mal-humorada que recebe o apoio de uma vizinha, Amanda (vivida por Giulia), para fazer as compras de supermercado durante o isolamento. Nada gentil, ela retribui a solidariedade com constantes reclamações, mas, paciente, a jovem conquista um lugar de afeto capaz de mostrar que as duas sofrem por questões bem semelhantes. “Quando estreamos, em meio aquela situação triste, tudo era visto com muito peso e, hoje, sinto que as pessoas não enxergam mais tanto a pandemia”, diz Giulia. “Ficou uma boa história sobre duas mulheres alimentadas pela esperança de dias melhores.”

Nem nos sonhos mais otimistas Lilia e Giulia imaginariam que em 2025 ainda dariam entrevistas sobre A Lista. O projeto nasceu na mais absoluta despretensão como uma das tantas peças on-line que aliviaram a barra dos artistas e do público confinados. “Tudo foi tão inusitado que, naquele momento sem perspectivas, a única preocupação era ocupar as nossas cabeças com o que a gente gosta de fazer”, lembra Lilia. Em setembro de 2020, mãe e filha encararam o palco de um teatro no Rio de Janeiro repleto de cadeiras vazias e espectadores conectados pelos computadores em suas casas. “Parecia um eterno ensaio geral as sessões virtuais”, comenta Giulia.

Em março de 2022, A Lista estreou em seu formato presencial definitivo no Teatro Renaissance e seguiu em junho para o Teatro Vivo, ficando nove meses em cartaz na capital paulista. A previsão era de apenas três. Desde então só teve pequenos hiatos, como uma pausa para Lilia gravar a novela Fuzuê em 2023, e, mesmo durante Garota do Momento, ela equilibrou sessões no Teatro Carlos Gomes, no Rio. Neste percurso, mais de 70 mil pessoas conferiram o trabalho em 14 cidades brasileiras e, depois de São Paulo, está previsto o retorno a Vitória, Brasília e Porto Alegre. “Como não temos patrocínio, planejamos um passo de cada vez, sem grandes antecedências e, assim, seguimos nesta trajetória de quase cinco anos”, avisa Lilia.

Outra cena de A Lista, com Giulia Bertolli e Lilia Cabral. Foto Priscila Prade

Mais que a disputa pelos ingressos nas bilheterias, Lilia e Giulia celebram mesmo é o encontro familiar diante das plateias – algo que, se não fosse a pandemia, demoraria muito mais tempo ou talvez nem acontecesse. “Eu fico feliz de vê-la tendo a chance de conhecer os principais teatros do país e fazendo parte de um projeto duradouro que, no futuro, vai ajudá-la até a entender quais são as melhores escolhas profissionais”, comemora a mãe.

A filha tem consciência de que o sucesso não é uma constância na carreira de uma artista e, mais que estar ao lado da mãe, aproveita a oportunidade de contracenar com uma artista experiente e rigorosa. “Eu nunca enxerguei a minha mãe em cena e vibro com a sua capacidade de me surpreender a cada noite”, observa. “Ela muda entonações de falas que repetimos há anos, cria novas intenções e propõe trocas com a plateia sempre de um jeito diferente.”    

Quando pequena, Giulia era proibida pela mãe de ver novelas. Hoje, ela confessa que muitas vezes via um ou outro capítulo às escondidas. Por isso, talvez tenha demorado para compreender o alcance popular de sua mãe e só foi alertada para isso pelos colegas de escola. “Tinha 9 ou 10 anos e me surpreendia quando me perguntavam se eu era mesmo filha da Lilia Cabral”, lembra, rindo.

A Lista traz Giulia Bertolli e Lilia Cabral. Foto Priscila Prade

A mãe famosa, claro, não escondia a sua rotina e, eventualmente, levava a filha aos estúdios para acompanhar uma gravação. “Na época que minha mãe fez a novela Estrela-Guia, conheci a Sandy e era o auge do álbum As Quatro Estações, achei aquilo o máximo”, recorda Giulia. “Eu me lembro bem de quando você cruzou com o Rodrigo Santoro em um estúdio, aquele dia sim foi legal”, completa a mãe.

Giulia cresceu, virou atriz e compartilhou as vivências com a mãe nos estúdios de televisão e no teatro. Como roteirista de cinema, ela convocou Lilia para pisar um pouco mais no seu território. No ano passado, A Lista virou um filme dirigido por José Alvarenga Jr. e roteirizado por Gustavo Pinheiro e a própria Giulia, supervisionados por Marcelo Saback. O lançamento se deu em fevereiro na Rede Globo.  

A essência da peça se manteve no longa, e tramas paralelas foram incluídas, com a da turbulenta relação de Laurita com a filha (papel de Letícia Colin) e do seu reencontro com um amor da juventude, Antero (vivido por Tony Ramos). “Eu, o Gustavo e o Saback ficávamos naquele apego em relação à peça, mas, com o tempo, vimos que o filme ficou muito mais solar sem eliminar nada do original”, reconhece. “Pelo contrário, ganhou força com a presença das amigas da Laurita e cenas como a do sofrimento da mãe da Amanda no hospital.” 

Serviço

A Lista

Teatro Faap. Rua Alagoas, 903, Higienópolis

Sexta e sábado, 20h; domingo, 17h. R$ 140

Até 3 de agosto (reestreia 27 de junho)

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Ficha Técnica

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Serviço

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