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Sucesso britânico, “aleatório” ganha montagem no Brasil

Sinopse

Dramaturgia da autora debbie tucker green ressoa na realidade brasileira ao expor como a morte de pessoas negras está inserida em contextos muito específicos apoiados na necropolítica

Por Redação Canal Teatro MF

Estudos e pesquisas no Brasil apontaram que entre os anos de 2021 e 2023 foram registradas mortes violentas intencionais de pelo menos 15.101 crianças e adolescentes negras, uma média de 13,5 mortes por dia no ano passado; bem como que dos trinta mil assassinatos por agressão armada em 2019, 78% foram contra pessoas negras. 

Atravessando o Atlântico, na Inglaterra, durante a pandemia da covid-19, levantamentos registraram que pessoas negras tinham 50% mais chances de morrer após serem infectadas; assim como estudos recentes evidenciaram que homens negros têm sete vezes mais probabilidades de serem mortos ao serem abordados pela polícia naquele país. 

Érika Rocha em aleatório. Foto Allis Bezerra

E isso não é aleatório. O espetáculo aleatório, assim mesmo em letras minúsculas, um trabalho da autora britânica debbie tucker green, que também grafa seu nome em letras pequenas, estreia no Sesc Vila Mariana no dia 24 de outubro. 

O texto, no original randon, teve sua primeira apresentação no ano de 2008 em Londres e foi adaptado para a televisão em 2011, quando ganhou um prêmio Bafta (o Oscar do cinema britânico) pela adaptação cinematográfica. 

Em um dia comum, a rotina de uma família negra é abruptamente interrompida por uma visita indesejada, quando a polícia aparece com notícias devastadoras. O mundo deles de repente implode a partir do relato de um tiroteio envolvendo o garoto da família que se encontrava do lado de fora da escola durante o ato violento.

Érika Rocha em outra cena de aleatório. Foto Allis Bezerra

No caso, o irmão, pois todo o relato é feito exclusivamente pela irmã. Para a atriz Érika Rocha, também idealizadora do projeto, o texto original ressoa profundamente no contexto brasileiro, sem a necessidade de adaptações. O uniforme escolar durante o assassinato me remeteu às inúmeras mortes de crianças negras no Brasil. Pensei: isso é tão Brasil!”comenta Érika. 

Sem alterar o cerne da dramaturgia original, aleatório expande sua ressonância e transporta o público para um cenário que reflete a violência do Estado enfrentada pela comunidade negra. “É uma realidade que transcende a classe. Para jovens negros, o perigo é iminente, não importa de onde venham”pontua a diretora Nilcéia Vicente

Para essa encenação no Brasil foi estabelecido um intercâmbio criativo com a autora no intuito de preservar a autenticidade da obra. A própria debbie tucker green pediu, por exemplo, fidelidade especial ao dialeto patuá – falado por imigrantes jamaicanos em Londres – para manter a identidade dos personagens intacta. Para a ocasião, explica a diretora, uma tradutora especializada colaborou na confecção do texto.

Fotomontagem com Érika Rocha em aleatório. Foto e arte Allis Bezerra

As evidências trágicas implicadas junto à população negra tanto no Brasil como na Inglaterra são explicitadas na dramaturgia, que traz um título um tanto irônico para refletir como a violência contra jovens negros pode ser compreendida através do conceito de necropolítica, na qual a morte de corpos negros é naturalizada como parte de um sistema de controle social e racial. 

Ao sugerir uma falta de lógica, aleatório conduz os eventos em uma narrativa que, como explica Nilcéia Vicente, desafia a ideia de acaso. “A violência, aleatória, não tem nada. Os alvos são claros, e ela se manifesta em contextos muito específicos”, disse a encenadora.

A temporada contará também com uma roda de conversa com o professor de direitos humanos e colunista do jornal Folha de S.Paulo, Thiago Amparo, e a fundadora do movimento Mães de MaioDébora Silva, onde a ideia será explorar com o público, como a peça dramatiza essa realidade, revelando a banalização das mortes de jovens negros nas mãos do Estado ou por meio da violência social, e o impacto disso nas famílias e comunidades.

Serviço

aleatório

Sesc Vila Mariana. Rua Pelotas, 141. Telefone: (11) 5080-3000

Quinta a Sábado, 20h30. Feriados de 02, 15 e 20/11, 16h30. R$ 50

Até 23 de novembro (estreia 24 de outubro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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