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A INCRIVEL VIAGEM DO QUINTAL

Comédia “Insignificância” fala das consequências da fama; veja vídeo

Sinopse

Peça estrelada por Cássio Scapin, Amanda Acosta, Marcos Veras e Norival Rizzo mostra encontro imaginário entre Einstein, Marilyn, DiMaggio e McCarthy

Por Ubiratan Brasil

Nova York, 1957. O cientista Albert Einstein se hospeda em um luxuoso hotel, à espera de uma conferência que fará nas Nações Unidas. Logo, porém, ele começa a receber visitas inusitadas, da atriz Marilyn Monroe e de seu então marido, o jogador de beisebol Joe DiMaggio, e também do senador Joseph McCarthy. O encontro, na verdade, não aconteceu, mas é o ponto de partida para a comédia Insignificância, que estreia na quinta-feira, dia 10, no Teatro Faap.

Trata-se de um drama cômico deslumbrantemente inventivo sobre os desafios de ser conhecido e de conhecer a si mesmo, escrito pelo dramaturgo britânico Terry Johnson em 1982. “E o mais terrível é que o texto está mais atual do que na época em que foi criado”, observa o diretor Victor Garcia Peralta. “Afinal, a loucura pela fama e a extrema direita atrás da porta são características do nosso tempo.”

Cassio Scapin, Marcos Veras, Amanda Acosta e Norival Rizzo em Insignificância. Foto Ubiratan Brasil

Nenhum dos personagens é nominado, mas suas características físicas e suas atitudes ajudam o público a desvendar suas reais identidades. E aquele momento em 1957 é especial para cada um deles e suas tormentas: a atriz por sua insegurança, o grande jogador por sua necessidade de um herdeiro, o cientista por sua culpa moral sobre a bomba atômica e o político por sua paranoia sobre a supremacia russa.

“DiMaggio vive uma relação tóxica com Marilyn”, explica seu intérprete Marcos Veras. “Ele já está longe do esporte, mas não se acostuma com a fama de sua mulher, cada vez mais resplandecente. E, um determinado momento, Joe confessa sua limitação intelectual, em uma tentativa de conseguir seu perdão.”

Cassio Scapin (Einstein) e Amanda Acosta (Marilyn Monroe) em Insignificância. Foto Ubiratan Brasil

“Marilyn, por sua vez, oscila entre a insegurança e a segurança”, conta a atriz Amanda Acosta. “Ela sabe de suas qualidades intelectuais e quer ser ouvida, mas, naquela época, os homens não se interessavam por mulheres com opiniões formadas. Daí a atração (na verdade, o tesão) que ela sente por Einstein, um cientista renomado e que aceita ouvi-la.”

Já o aclamado físico ainda se ressente de ter iniciado o estudo que, em outras mãos, resultou na criação da bomba atômica, usada em Hiroshima e Nagasaki, em 1945. “É um homem incomodado com isso, mas ainda mantém seu interesse pelas novidades“, explica Cassio Scapin, que trabalhou fisicamente sua atuação. “É um senhor de 75 anos que, em 1953, significava ser muito mais velho do que nos dias de hoje. Daí sua fala às vezes pausada.”

Cena da peça Insignificância, no Teatro Faap. Foto Ubiratan Brasil

Completando o quarteto, o senador Joseph McCarthy busca um depoimento de Einstein para manter aceso o interesse do povo americano pela sua obsessão: uma acentuada repressão política aos comunistas, assim como uma campanha de medo à influência deles nas instituições americanas. Com isso, pessoas eram espionadas, muitas perseguidas, várias terminaram mortas. Foi o período conhecido por macarthismo. “Ele é o protótipo de um político”, analisa o ator Norival Rizzo. “A luta pelo poder é constante e, quando chega lá, não admite opiniões contrárias.”

É o que dá à peça de Johnson uma nova atualidade, a visão de uma América onde a celebridade é um instrumento político. Aqueles que têm fama estão cientes de sua armadilha. Mas o ponto de Johnson é que, em uma sociedade ensinada a adorar a celebridade, as pessoas “nunca questionarão o poder dos menos visíveis”.

Este encontro singular destaca uma das questões mais discutidas na mídia contemporânea: as consequências da fama, tanto na vida pessoal de renomadas celebridades, em relação às concessões necessárias para alcançá-la ou preservá-la, quanto à sua exploração para objetivos políticos.

O elenco e o diretor falam sobre o espetáculo para o Canal Teatro MF

Através das perspectivas de figuras que simbolizam alguns dos maiores fenômenos de popularidade do século XX, o autor reflete sobre as maneiras de lidar com a fama (ou com a perda dela): a rejeição por parte do cientista, a aceitação hesitante, personificada no mito sexual que Marilyn continua a representar, e a decepção quando a fama se dissipa, refletida no personagem do jogador.

“Não quis que os atores apresentassem uma réplica das figuras famosas, mas que trouxessem o seu olhar para cada personagem representado. Assim, temos o lado B de Marilyn, Einstein, DiMaggio e McCarthy em cena”, comenta Peralta, que trabalhou com cuidado na mais famosa cena da peça: quando Marilyn demonstra a teoria da relatividade ao próprio Einstein apenas com a ajuda de carrinhos e brinquedos que comprou em uma loja de R$ 1,99. 

A ideia de produzir essa peça nasceu há quase dez anos na cabeça do produtor Rodrigo Velloni, mais especificamente em 2016, quando ele produziu em São Paulo outro texto de Terry Johnson, Histeria, dirigido por Jô Soares. “Na época, o autor me falou de Insignificância e, quando ouvi os nomes de Einstein e Marilyn como personagens, logo me interessei.”

Serviço

Insignificância

Teatro Faap. Rua Alagoas, 903. Telefones (11) 3662-7233 e (11) 3662-7234

Quintas, sextas e sábados, 20h. Domingos, 17h. R$ 100 / R$ 130

Até 15 de dezembro (estreia 10 de outubro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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