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Inspirada em Clarice Lispector, peça traz o amor que foge dos padrões

Sinopse

“Livro dos Prazeres” acompanha o lento e agradável processo de espera de um casal até chegar em uma troca afetiva densa e livre

Por Ubiratan Brasil

Leitora fiel de Clarice Lispector (1920-1977) desde adolescente, a atriz, diretora e roteirista Melise Maia criou um vínculo especial com a obra Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, lançada em 1969. “Era jovem e não entendia muito, mas me sentia fixada no texto”, conta ela que, em 2018, já íntima da prosa clariceana, começou a fazer uma adaptação do texto para o teatro. A pandemia retardou, mas finalmente ela conseguiu finalizar O Livro dos Prazeres que, depois de uma temporada no Rio de Janeiro, chega ao Teatro Ruth Escobar, em São Paulo.

Trata-se da história de Loreley, conhecida entre os amigos pelo apelido Lóri, que deixa a cidade de Campos para morar e trabalhar como professora primária no Rio de Janeiro. Única filha mulher, com quatro irmãos, nasce de família rica, que a ajuda todo mês com uma mesada. Mas ainda ressente pela falta de um verdadeiro amor, aquele com quem poderia concretizar uma relação mais íntima. Tudo muda quando ela conhece um professor de Filosofia, Ulisses, com quem inicia uma experiência amorosa fora dos padrões. “O que eles buscam é amadurecer a relação e aguardar o momento certo para fazer amor”, conta Melise, que vive Lóri – Ulisses é o papel de Caio Paduan.

Caio Paduan e Melise Maia em Livro dos Prazeres. Foto Guilherme Bezerra

Em sua adaptação, a fim de facilitar a narrativa, Melise acrescentou a própria Clarice em cena: é ela quem cria a história em uma máquina de escrever à medida em que ela se desenvolve. “A narrativa acompanha o processo angustiante e prazeroso característico dos amantes. Nessa jornada, Lóri segue em busca de si mesma e do prazer sem culpa. Ulisses funciona como um farol, iluminando os caminhos para que ela possa viver um grande amor”, explica a atriz, que fez um meticuloso trabalho de adaptação, pois, com sua escrita característica, ora seca, ora repleta de metáforas, Clarice ainda perturba com o modo anticonvencional de organizar uma narrativa, valendo-se de uma escrita intimista. Basta lembrar que a obra começa com uma vírgula: “, estando tão ocupada, viera das compras de casa que a empregada fizera às pressas porque cada vez mais matava serviço…”

“Minha vontade era a de não cortar nada, pois Clarice é completa“, comenta Melise, que fez um enxugamento preciso, sempre acompanhada das opiniões do diretor Ernesto Piccolo. “Ele imprimiu uma cadência à narrativa, que deixa o espectador sempre interessado.”

Caio Paduan e Melise Maia em Livro dos Prazeres. Foto Guilherme Bezerra

Outro ponto alto do espetáculo é a trilha sonora especialmente composta por Edu Lobo. Melise conta que arriscou um convite, acreditando que ouviria uma negativa. “Mas Edu sentia falta de compor para o teatro e, depois de se emocionar com um ensaio que apresentamos para ele, a composição surgiu.” A qualidade da trilha é garantida pela gravação, ocorrida nos estúdios da gravadora Biscoito Fino.

Nas apresentações já realizadas, Melise notou como o texto encanta especialmente os jovens. “Muitos adolescentes vêm conversar depois do espetáculo, todos dizendo ser leitores fiéis de Clarice. O mérito da obra dela está justamente em não ser obrigatoriamente entendida, mas totalmente absorvida.”

Serviço

O Livro dos Prazeres

Teatro Ruth Escobar – Sala Dina Sfat. Rua dos Ingleses, 209

Quarta e quinta, 20h. R$ 80

Até 31 de outubro (estreia 2 de outubro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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