Em “MEU NOME: MAMÃE”, ator se inspira nas evidências que percebe há 15 anos no lento processo de degeneração cognitiva e de memória acarretadas pela enfermidade sofrida por sua mãe
Por Redação Canal Teatro MF
O Brasil está envelhecendo. Dados do IBGE apontam em sua última pesquisa um aumento de nove milhões de idosos no país e um dos motivos cruciais é o avanço da medicina. Por outro lado, por conta desse envelhecimento da população, também surge um aumento de casos de doenças, afinal é na velhice que se apresenta com mais intensidade um corpo mais débil e necessitado de cuidados. No Brasil, são diagnosticados cem mil novos casos de Alzheimer por ano, uma doença que traz suas evidências muito mais no comportamento que em aspectos claros e manifestos no corpo, uma característica que dificulta um tratamento certeiro e objetivo.
A mãe do ator Aury Porto convive com esse diagnóstico há quinze anos. Quando ele começou a relatar de forma bem humorada para os amigos mais próximos as situações vividas por ele e sua família, que envolviam os cuidados médicos apoiados na força resistente característica da cultura sertaneja dos cearenses, sem dispensar a leveza, disposição e afeto das situações cotidianas diante da complexidade do assunto, ouvia sempre o comentário: “Você precisa levar isso para o palco”.
Em cena, a dramaturgia criada por Claudia Barral cria um mosaico para unir as personagens Filho e Mãe, em uma dinâmica de troca de máscaras executada pelo ator, transitando entre a memória do portador da doença de Alzheimer e o surrealismo na qual as imagens e situações se expressam diretamente do inconsciente.
Presença contemporânea marcante não só no teatro, mas também na literatura, a perspectiva autobiográfica, é levada para a cena em MEU NOME: MAMÃE, ampliando as percepções de algo íntimo e pessoal para uma dimensão mais universal. A montagem ganha sua terceira temporada agora no Teatro Oficina, espaço em que o ator conviveu por nove anos.
Aury foi apresentado à atriz, diretora e dramaturgista Janaína Leite, que tem uma trajetória dentro da vertente dos teatros do real para cuidar da encenação de MEU NOME: MAMÃE, trazendo a memória como centro, dentro do delicado tema da saúde mental.
Se em um de seus trabalhos, Stabat Mater, a diretora colocou sua mãe em cena, buscando um limite entre o real e a representação, agora o espetáculo evoca e invoca lembranças, histórias, canções e construções na travessia de um filho diante do adoecimento da mãe.
“A forma como o Aury e sua família lidam com a doença abre uma outra dimensão, que me interessa como diretora, além da relação do filho com a mãe, tema que já me vem tocando há um tempo. A saída lúdica encontrada por eles para essa convivência é o retrato do próprio teatro no encontro com a vida”, acredita a diretora.
Serviço
MEU NOME: MAMÃE
Teatro Oficina. Rua Jaceguai, 520 – Bela Vista
Sábados e domingos, 19h. R$ 60
Até 29 de setembro (estreia 7 de setembro)